por,Paulo Crespolini.
Psicólogo, licenciado em Filosofia e Pesquisador em Psicologia Analítica.
“Ninguém é imutável. Ninguém é desprovido de transformação. Ninguém é vítima de sua própria história. A todo tempo estamos nos refazendo, nos recontando, nos reorientando, de acordo com nossas conquistas e conflitos. Aquilo que fomos ontem pode não ser amanhã.
Na atualidade, uma das maiores tiranias psicológicas acontece no momento em que as pessoas se apropriam da nossa história, ‘porque assim o permitimos’ e tratam de nos encaixar nas imagens fechadas que já possuem de nós. Por isso, sentem-se à vontade para dizerem: “Fulano é assim”, “Ciclano não é isso” e, ainda, “Beltrano é aquilo”.
Dia após dia, somos reduzidos às opiniões alheias, da mesma forma como acontece no Mito Grego de Procusto. Em sua residência havia uma cama de ferro, destinada aos viajantes que por lá pernoitavam. Se fossem muito altos, ele os cortava as pernas. Se, do contrário, tivessem pequena estatura, ele os esticava. De uma forma ou de outra, os viajantes eram sempre mutilados para que se ajustassem à cama.
Diante de tantas histórias que nos chegam, seja na clínica, seja na vida, devemos questionar se não temos agido como Procusto: tentando adaptar pessoas, em uma busca frenética para dominar subjetividades, inclusive aquelas consideradas desajustadas. Às vezes, sem o perceber, de fato, acabamos por submeter existências, tolhendo identidades, frente a um ideal de sociedade, de religião e até mesmo de cultura.
Não nos esqueçamos de que teorias nascem para servir, jamais para oprimir. Não se pode passar dos conceitos epistemológicos à violência psíquica. Antes de qualquer teorização, estamos lidando com almas humanas.
Por outro lado, é impossível, senão demasiadamente fatigante, controlar o que as pessoas dizem, esticam ou pensam sobre nós. Elas podem falar tanto verdades, quanto cometer profundos equívocos. O mais saudável, em meio a tudo isso, é parar de nos consumir com as falas alheias, tornando-nos mais resolvidos, assumindo as rédeas da nossa vida, que pode ter sido penhorada e decepada pelos demais.
Por último, antes de julgarmos o ‘Procusto que habita no outro’, tratemos de visitar ‘o Procusto que habita em nós’”