“E quando você volta a trabalhar? Como se ficar em casa cuidando dos filhos não fosse importante.” Para mim, cabe nesta questão toda a essência do Começo da Vida, documentário que considero um presente para a sociedade.
Vivemos inseridos numa cultura tão imediatista que só consegue perceber valor naquilo que dá resultado imediato, visível, palpável, que pode ser mensurado aqui e agora. Formar um ser humano está muito longe disso. É uma construção diária, tijolo por tijolo. É uma obra de arte forjada ao longo do tempo, onde cada detalhe, cada pequeno aprendizado, enriquece a obra um pouquinho mais. Não existe prazo a ser cumprido, não existe produto a ser entregue, não existe meta. Há apenas um encantamento por sermos surpreendidos diariamente com um novo gesto, uma nova habilidade, com um serzinho diante de nós cada dia mais autônomo e seguro de si. E não existe no mundo trabalho mais importante do que esse.
São as relações de amor e afeto que construímos junto as nossas crianças que vão determinar a sociedade que conduzirá esse mundo no futuro. Muito se ouve hoje em dia sobre como há uma falta de respeito com os idosos. Também se fala que a velhice é a nossa segunda infância. E temos que pensar que são estas crianças que estamos educando hoje que serão os nossos cuidadores amanhã. E o tratamento que eles nos darão será um reflexo do tratamento que damos a eles hoje. Chegamos em um momento como coletividade que não basta apenas ser funcional: cuidar, limpar, alimentar, garantir as necessidades básicas de sobrevivência não são mais suficientes. Para formar um indivíduo é preciso muito mais do que isso. Se quisermos ser amparados em nossa velhice, precisamos fazer mais. E cabe a todos nós, aos pais, à sociedade, à humanidade ensinar a estes pequenos a viverem as relações com amor, afeto e empatia. E aqui acrescento mais uma fala muito interessante do filme: “não adianta você se preocupar apenas com o seu filho. O comportamento das pessoas que tem a mesma faixa etária dele é que determinará a quantidade de pessoas adultas que fará algo pela sociedade e as que apenas irão tirar proveito dela.” Portanto, não adianta se preocupar apenas com o seu núcleo. Somos partes de um todo e precisamos pensar e agir como tal.
Não precisa ser um especialista para perceber que este sistema onde somente se visa o lucro, o resultado imediato, ser melhor a qualquer custo não se sustenta por muito tempo. Precisamos exercitar a empatia. Precisamos entender que o outro é tão importante quanto nós. Precisamos ter empatia com as nossas crianças. Se disponibilizar a recepcionar todas as lições de amor e afeto que elas podem nos ensinar. Sim, não se enganem. As relações são construídas quando permitimos que a criança nos ensine. Precisamos recepcionar e acolher nossas crianças com amor e oferecer um ambiente propício para que desenvolvam o seu potencial.
Recomendo muito que assistam ao documentário e que possam ser tocados assim como eu fui. E encerro essa reflexão com um pensamento que não me saiu da cabeça do início ao fim: “não, não precisa ser tão difícil”.
O Começo da Vida – Trailer Oficial