Somos uma estrutura que construímos ao longo da vida.
Nesta estrutura contém todas as impressões emocionais que sofremos no decorrer do nosso desenvolvimento e é através destas impressões que percebemos o mundo, o nosso mundo.
Para controlar o que tomamos como certo na vida criamos estratégias com padrões, e seguimos estas estratégias cegamente.
Na tentativa de não sermos arruinados por medos e angústias, dificilmente nos questionamos sobre nossas estratégias e assim estabelecemos uma fronteira de engessamento do nosso próprio mundo.
Se vagamente nos sentimos insatisfeitos, abrimos a premissa de ruína aos padrões pré-determinados. E talvez não nos conheçamos muito bem.
A história do Mausoléu Augusteum e o texto de Elizabeth, fazem uma analogia sobre a ruína e como isso pode ser transformador.
Sobre Augusteum…
Augusteum é um extenso sítio de ruínas localizado no centro de Roma, na Itália. No início, o plano era que o local servisse como um glorioso mausoléu imperial construído por Octávio Augustus. O imperador dificilmente acreditaria se alguém o contasse que um dia o glorioso Império Romano seria outra coisa além de glorioso, sendo sensata, aquele era o Mundo que ele conhecia. No entanto, deu-se que Roma foi invadida pelos bárbaros –saqueada, ocupada e destruída. Como Augusto, o primeiro grande imperador de Roma, imaginaria a queda de Roma e de todo o mundo como ele conhecia?
Somente mais tarde, o prédio foi renovado para transformar-se em um forte para proteger Roma da invasão de principados vizinhos. Em seguida, de alguma forma o Augusteum foi transformado em um vinhedo, então em um jardim renascentista, então em uma praça de tourada (século XVIII, agora), depois um depósito de fogos de artifício, e em seguida, em um salão de concertos. Hoje, o Augusteum é um dos lugares mais silenciosos e solitários de Roma, enterrado no chão. A cidade cresceu ao seu redor ao longo dos séculos. Como uma ferida, um coração partido ao qual você se apega, pois a dor é boa.
Texto – Elizabeth Gilbert
“Considero muito reconfortante a resistência do Augusteum, o fato de essa estrutura ter tido uma história tão atribulada e, mesmo assim, ter sempre conseguido se ajustar à loucura específica de cada época. Para mim, o Augusteum é como alguém que levou uma vida totalmente louca – alguém que talvez tenha começado como dona de casa, depois inesperadamente ficado viúva, em seguida virado dançarina para ganhar dinheiro, de alguma forma tenha se tornado a primeira dentista mulher do espaço sideral, e depois tentado a sorte na política – e que, mesmo assim, conseguiu manter intacta a consciência de si próprio durante cada reviravolta.
Olho para o Augusteum o caos que ele suportou, o modo como foi adaptado, queimado, pilhado e depois encontrou uma maneira de ser reconstruído, e me tranqüilizei. Penso que, no final das contas, talvez a minha vida na verdade não tenha sido tão caótica assim. É apenas este mundo que é caótico e nos traz mudanças que ninguém poderia ter previsto. O Augusteum me alerta para eu não me apegar a nenhuma idéia inútil sobre quem sou, o que represento, a quem pertenço ou que função eu poderia ter sido criada para executar. Sim, eu ontem posso ter sido um glorioso monumento a alguém – mas amanhã posso virar um depósito de fogos de artifício.
A ruína é uma dádiva. A ruína é o caminho que leva à transformação. Até mesmo na Cidade Eterna, diz o silencioso Augusteum, é preciso estar preparado para tumultuosas e intermináveis ondas de transformação.
Se você tem a coragem de deixar para trás tudo que lhe é familiar e confortável (pode ser qualquer coisa, desde a sua casa aos seus antigos ressentimentos) e embarcar numa jornada em busca da verdade (para dentro ou para fora), e se você tem mesmo a vontade de considerar tudo que acontece nessa jornada como uma pista, e se você aceitar cada um que encontre no caminho como professor, e se estiver preparada, acima de tudo, para encarar (e perdoar) algumas realidades bem difíceis sobre você mesma… então a verdade não lhe será negada.”
Para reflexão – por, Carina Freire*}